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O inverno brasileiro foi potencializado com uma massa de ar polar – aliás, várias. Muita gente preocupada com o frio intenso e com razão, claro. Contudo, o que pode estar por vir (o verão) pode ser ainda pior. No final de junho, representantes de quase 200 países e especialistas se reuniram para elaborar o novo relatório sobre o clima da ONU, um texto de referência que servirá como norte para políticas ambientais em todo o planeta e que definem o futuro da humanidade, afetada por uma série de catástrofes naturais.

Em junho e julho, o planeta registrou uma onda de calor sem precedentes no Canadá (inclusive com mortes), incêndios no oeste dos Estados Unidos, inundações catastróficas na Alemanha e na Bélgica e chuvas torrenciais na China. Todas estas alterações haviam sido previstas nos relatórios anteriores sobre o clima.

“Os sinais de alerta estavam aí, mas imagino que as pessoas pensem que acontecerá com os outros, em outro lugar, mais tarde”, comenta Kaisa Kosonen, do Greenpeace. Até alguns cientistas foram pegos desprevenidos. “O clima mudou mais rápido do que se esperava”, declarou Tim Lenton, da Universidade de Exeter, para quem a forma de atuação do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática) levou-o a “moderar” sua mensagem no passado.

As pesquisas que devem basear o documento apresentam indícios claros. “Se não reduzirmos nossas emissões na próxima década, não vamos conseguir. O mais provável é que (a metade) +1,5°C seja alcançada entre 2030 e 2040. Esta é a melhor estimativa que temos hoje”, disse à AFP o climatologista Robert Vautard, um dos autores da primeira parte da avaliação do IPCC.

O documento do IPCC deve mostrar que a vida na Terra mudará em 30 anos, ou mesmo antes. Estes efeitos serão divulgados depois da COP26, a conferência do clima da ONU prevista para acontecer em novembro, em Glasgow.

Muitos esperam que o relatório a ser apresentado em agosto pressione os governos para que apliquem as políticas necessárias. “Estamos enfrentando diariamente a destruição e o sofrimento (…). É importante reconhecer que falamos do futuro do planeta. Não podemos brincar com isto”, insiste esta semana Patricia Espinosa, um dos principais nomes da ONU para questões climáticas.

As enchentes letais que colocaram a vida de cabeça para baixo na China e na Alemanha foram um lembrete forte de que as mudanças climáticas estão tornando o clima mais extremo em todo o planeta.

E não é só isso. Infelizmente. Muitos países irão desaparecer em virtude do aquecimento do planeta e o derretimento das geleiras. Honduras é um dos três países mais vulneráveis do mundo ao aquecimento global, e no município de Cedeño, com 7 mil habitantes, a igreja já está debaixo d’água, assim como os hotéis e a maioria das casas. As mudanças climáticas são a principal causa do agravamento da crise migratória hondurenha, com milhares de famílias se lançando ao mar em embarcações precárias rumo aos EUA, onde serão barrados e possivelmente deportados.

Cidades grandes como Tokyo, Nova Orleans, São Petersburgo, Veneza e todo o território dos Países Baixos são exemplos de lugares extremamente vulneráveis à elevação do nível do mar. Esses locais só não estão total ou parcialmente submersos hoje devido a (caríssimas) soluções tecnológicas, que ainda precisam ser incrementadas para dar conta da expectativa de elevação ainda maior nos próximos anos.

Mas a tecnologia não resolve tudo, e Jacarta, capital da Indonésia, é prova disso. A metrópole de 10 milhões de habitantes e que está a apenas 8 metros acima do nível do mar afunda rapidamente em águas poluídas e deve sumir até metade do século. O governo do país apresentou há dois anos um plano para mudar a capital para a parte indonésia da ilha do Bornéu, que também abriga a Malásia e Brunei. Segundo as autoridades, o projeto custará 40 bilhões de dólares, e os primeiros moradores devem mudar em 2024, mas as obras estão atrasadas devido à pandemia e a dificuldades de financiamento.