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Longa-Homenagem mostra as várias facetas do humorista dos Trapalhões ( 2023, em cartaz nos cinemas)

Ele nasceu de família muito pobre, com a mãe doméstica, analfabeta, que com muita dificuldade criou sozinha o casal de filhos, mas ele sempre estava com um sorrisão no rosto que virou uma de suas marcas registradas. Saiu da Aeronáutica e seguiu seu sonho de ser sambista no grupo Originais do Samba, e por acaso do destino, e muito talento cômico, virou um dos maiores comediantes do Brasil. Ele foi Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum, humorista do grupo Os Trapalhões, um dos maiores sucessos no humor nacional. E agora ele ganha uma merecida e linda homenagem na cinebiografia “Mussum, O Filmis”.

Eu cresci assistindo Os Trapalhões, na TV Globo aos domingos antes do Fantástico, e nos cinemas, em mais de 40 filmes que foram verdadeiros blockbusters, as filas dos cinemas dobravam as esquinas de todo o país. E fiquei muito feliz que o Mussum tenha ganhado um filme à altura do seu talento e importância, e essa não é mais uma da avalanche de cinebios que invadem nossa telas, Cacildis! O filmis é muito gostosis!

O longa é uma cinebiografia de estrutura tradicional, conta a vida de Mussum desde pequeno até o auge, desde ele indo pra escola tardiamente, ensinando sua mãe a ler e escrever, até o sucesso avassalador com Os Trapalhões e as brigas que vieram com a fama.

Em sua bela estreia na direção, Silvio Guindane  desenvolveu a narrativa com uma leveza deliciosa, equilibrando os bons e os maus momentos com excelência, o molejo é o mesmo do samba no pé do Mussum. O roteiro do Paulo Cursino, que tem vasta experiência no humor (escreveu Sai de Baixo e várias outras comédias), é ótimo, pegando as várias faces do humorista e evitando se aprofundar nas polêmicas sobre o racismo, pois essa é uma história de superação e sucesso.

Acompanhamos o jovem Mussum fingindo que estava dormindo e saindo pra fazer show e tocar reco-reco com sua banda,os Originais do Samba, até que um dia, numa apresentação dela na TV ( os programas eram todos ao vivo) faltou um humorista que iria contracenar com o Grande Otelo e ele foi escolhido pra substituí-lo. Aliás, foi o Grande Otelo que o batizou de Mussum, e o Chico Anysio que criou o personagem pra Escolinha do Professor Raimundo  ( fatos que eu desconhecia e amei saber), e o resto é história, uma história linda de sucesso.

O elenco é absolutamente brilhante, cada ator foi escolhido com perfeição pros personagens. O Ailton Graça, que é maravilhoso em todo trabalho que faz, está grandioso como Mussum, ele usou seu treinamento em circo, dança e música e encarnou o humorista nos trejeitos, no andar, na voz, em tudo! E está perfeito nas esquetes de humor dos Trapalhões que foram reproduzidas na trama, algumas das mais icônicas, foi uma verdadeira viagem no tempo que fez minha memória afetiva explodir de alegria.

A Cacau Protásio vive a mãe do Mussum, a dona Malvina jovem, ela está ótima e mostrou que tem muito talento dramático. A Neuza Borges está magnífica como Dona Malvina mais velha, a gente tem vontade de tê-la como mãe, sempre sábia  e o  esteio emocional do comediante. Os atores que vivem Didi, Dedé, Zacharias, Grande Otelo, Chico Anysio e outros, também estão perfeitos, dando ainda mais qualidade a todo o filme.

A trilha sonora do longa é sensacional, ela mostra a cena do samba brasileiro nos anos 50 a 70 e o amor de Mussum pela Mangueira, escola de samba que ele apoiou ao longo da vida ao lado de outras figuras icônicas como Cartola e Alcione. A cenografia é linda, a favela, os estúdios de TV e as boates onde os Originais se apresentavam são um deleite.

Os diálogos são muito bem escritos, tanto os mais dramáticos quanto os de momentos casuais e os cômicos, mas acima de tudo eles são muito inspiradores, muitos retratam a importância da mãe do Mussum na sua trajetória. Ela era uma mulher forte, determinada, que colocou os filhos no caminho do bem com rigidez mas também muito amor e alegria. “Burro preto tem um monte, mas preto burro não dá!”.

Alegria essa que pode ser a palavra que melhor defina “Mussum, O Filmis”, longa imperdível que está em cartaz nos cinemas e em breve entra pro catálogo do Globoplay.