Monte Avaré, 2007. Foto de José Reynaldo da Fonseca/Refon.
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É comum, no Brasil, localidades receberem nomes de acidentes geográficos. Avaré não é exceção e nem as muitas cidades que a circunvizinham como Itatinga, Arandu, Itaí e Paranapanema, cuja origem indígena têm sentidos ligados à formação geológica da região.

A denominação Avaré é a mesma dada a um monte no campo, isolado, com a altitude de 635 metros, situado na Fazenda Avaré, antiga Fazenda Velha, que foi propriedade de Eduardo Lopes de Oliveira, chefe do Partido Republicano na Vila do Rio Novo.

O monte era avistado ao longe, entre o rio dos Veados e o ribeiro Tamanduá, no então município de São João de Itatinga, onde, segundo a lenda, foi encontrado um monge, quando os posseiros ali penetraram”, relata Maneco Dionísio em sua “Memória Histórica”. Nesse tempo, o povoado de Itatinga ainda era distrito de Avaré, do qual só seria desmembrado em 1899.

Entretanto, com a proclamação da República, em 1889, os simpatizantes do novo regime assumiram o poder no município do Rio Novo. Uma das primeiras medidas da Intendência (a prefeitura de antigamente) chefiada pelo fazendeiro Eduardo Lopes, ferrenho adversário do monarquista Maneco Dionísio, foi solicitar às autoridades estaduais a troca do nome da cidade.

Para agradar os seus aliados o presidente do Estado, Américo Braziliense de Almeida Mello, assinou o Decreto nº 180, de 29 de maio de 1891 que “elevou a Vila do Rio Novo à categoria de cidade, com a denominação de – Cidade do Avaré – conservando as atuais divisas”.

Bajulação

 “Diversas foram as razões que explicam essa mudança”, relatou o memorialista Jango Pires, para quem “a mais verdadeira e real foi a de achincalhar o alferes Maneco Dionísio, fazendo esquecer o bem que o lugar havia recebido desse homem”.

Porém, Jango declarou que “não conseguiram apagar a liberdade que Maneco conservou até os últimos momentos lúcidos de sua vida, escrevendo ‘outr’ora Rio Novo’ depois do nome Avaré”. Segundo ele, na época disseram que a mudança do nome teve fim bajulatório para agradar o coronel Eduardo Lopes, dono da Fazenda Avaré, hoje situada em Itatinga, “nome esse de um morro ou serra que existe dentro de sua propriedade e que é conhecido por tal, mas cujas características não correspondem à descrição primitiva”.

Do Monte Avaré, o pesquisador observa a Serra de Botucatu. Foto Refon

O morro hoje

Propriedade da Eucatex, o monte Avaré está quase oculto no meio do imenso reflorestamento de eucaliptos, existente numa área identificada como São José do Brumado, na antiga Fazenda Avaré.

Do alto do morro se tem uma vista privilegiada mostrando, pelo norte, as belezas quase contrastantes da Serra de Botucatu e, pelo sul, a paisagem do Vale do Paranapanema com as águas da Represa de Jurumirim.

Embora o morro certamente já não conserve mais a vegetação do tempo dos índios Caiuás, estes sim, os autênticos nativos da região, ainda podem ser encontradas na área algumas jerivás, as palmeiras solitárias e soberanas.

Singelo e atraente espetáculo que também ainda ali pode ser observado é o voo rasante de grupos de tucanos sobre as redondezas do acanhado monte. Do monte que passou à história paulista ao emprestar seu nome à principal cidade do Vale do Paranapanema. (GJ)