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Apesar de ganharem menos que homens nas mesmas funções, as mulheres conquistaram independência financeira à custa de muita dedicação e trabalho dobrado.  Não são mais ‘rainhas do lar’; são donas do próprio nariz e muito mais. Quase metade dos lares brasileiros são chefiados por elas. Estima-se ainda que só entre 2014 e 2019, quase 10 milhões de mulheres assumiram o posto de gestora da casa, enquanto 2,8 milhões de homens perderam essa posição no mesmo período.

Outro dado que confirma o avanço feminino – e inoperância masculina – é o número de mães solo no Brasil que em 2022 foi maior observado em cinco anos, de acordo com os cartórios de registro civil, levando em conta os quatro primeiros meses do ano. Somente de janeiro a abril do ano passado, mais de 56.931 crianças foram registradas sem o nome do pai. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem nada menos que 11 milhões de mães solo no Brasil, chefes de família muitas vezes em vulnerabilidade social.

Parece uma ascensão, mas essa falsa liberdade e independência tem um preço. Mulheres esgotadas pelo trabalho e indefesas do dia a dia, expostas ainda aos vários tipos de violência; a grande maioria abandonadas pelos companheiros que não ajudam a criar os filhos e pela justiça que passa pano aos homens ( dos 17.670 magistrados em atividade no Brasil, 37,3% são mulheres segundo a CNJ). Alguém se lembra do clássico caso de Mariana Ferrer? Vergonha judiciária.

Posto isso, o que é preciso fazer na prática para reduzir abusos, discriminação, violência? Talvez o primeiro passo seja mudar uma visão antiga de que mulheres veem na outra, uma inimiga. Mulheres devem apoiar mulheres (com raras exceções que envolvem incompetência).

Lembra dessa palavra : sororidade? Ela vem do latim “sóror” que significa “irmãs”, irmandade. SORORIDADE é ter empatia com outras mulheres, independente de cor, classe social ou nível educacional, é se colocar no lugar da outra pessoa antes de criticá-la, é não enxergar uma mulher como uma concorrente e apoiar nos momentos necessários, acolhendo, aconselhando, ajudando. SORORIDADE é a união de mulheres que compartilham os mesmos ideais e propósitos, é a base do feminismo e pode ser aplicada de diversas formas, desde que o objetivo continue sendo o apoio mútuo.

Infelizmente, as mulheres não foram ensinadas a ter empatia por outras mulheres. Fazia parte da cultura do nosso país.  Frases como: “mulher quando se junta, só sai fofoca”, “mulher puxa o tapete da outra”, “desgraça de uma mulher é outra”, “muita mulher, junta dá briga” , “mulher fala pra caramba”, “fulana ta de tpm sempre” e por ai vai – só fomentam a desunião.

O tom das frases são sempre de competição, concorrência. São frases pejorativas que em vez de unir, separam, segregam. É preciso mudar essa cultura praticando o apoio a outras mulheres. Para isso acontecer precisamos transformar nosso comportamentos, melhorar nossa forma de pensar, sentir e agir com as outras.

Outro ponto fundamental é o machismo e não poderíamos finalizar este especial sem falar dela, afinal é este estigma que está por trás de tudo isso. Não é preciso militar no feminismo para combater o machismo. Basta ter vontade de mudar as coisas – e a melhor forma de começar a fazer isso é mudando a si mesmo. Parece positividade tóxica, mas não é.  Claro que é fundamental tomar consciência do machismo e apontar onde ele se manifesta na nossa cultura, mas também é possível combatê-lo com ações práticas no nosso cotidiano. O machismo infelizmente ainda nasce dentro de casa e muitas vezes (infelizmente) é propalado pelas próprias mulheres/mães de forma inconsciente.  Mas como mães e pais podem mudar isso?

 

 BRINCADEIRA NÃO TEM GÊNERO

Basta uma ida às lojas de brinquedos para constatar a divisão “para meninas” X “para meninos”. Para elas, bonecas, casinhas e panelinhas; para eles, carrinhos, super-heróis e jogos de montar. Esse tipo de categorização leva as crianças a achar que atividades domésticas são de responsabilidade exclusiva das mulheres, enquanto que, para os homens, é destinada a conquista do mundo. Não que meninas não devam brincar de boneca, mas não há problema algum em deixar que meninos também o façam. Um bom exemplo de como isso pode ser conduzido vem da Suécia, país que ocupa o 4º lugar (entre 145 nações avaliadas) no ranking do Fórum Econômico Mundial que mede a igualdade de gênero. Em uma creche no centro de Estolcomo, uma das principais mudanças foi a eliminação de brinquedos tradicionalmente tidos como de meninas ou de meninos. No lugar deles, materiais como panos, papéis, madeiras e fantasias para que as crianças soltem a imaginação.

 

FALE SOBRE O RESPEITO AO CORPO DO OUTRO.

Recentemente, num desabafo em rede social  uma mãe relatava que um coleguinha da filha, ambos com 7 anos, estava sistematicamente passando a mão na bunda da menina. Contra as afirmações de que “é só uma brincadeira!”, “não tem maldade!”, “eles são crianças!”, há a certeza de que o garoto não estava respeitando o corpo da menina, que já havia deixado claro não estar gostando do comportamento dele. Esse tipo de coisa precisa ser discutida nas famílias e nas escolas, para que ninguém cresça achando que tal desrespeito é normal.

 

NÃO SEXUALIZE CRIANÇAS.

Uma das coisas que incomoda é quando alguém diz que um de seus filhos namora com alguma outra criança. Pode parecer exagero, mas não é. Eles são, no máximo, amigos. Por que a gente insiste em colocá-los como adultos? O mesmo vale para frases aparentemente inocentes, mas que estão carregadas de noções machistas: “ela vai dar trabalho”, “esse aí vai ser garanhão”, “já é o terror das menininhas” e por aí vai. Incentivar que meninos se comportem como predadores sexuais é uma das formas de alimentar a cultura do estupro.

 

INCLUA MENINOS E MENINAS NAS TAREFAS DOMÉSTICAS.

Talvez um dos maiores termômetros da situação de desigualdade entre homens e mulheres seja a divisão das tarefas domésticas. E a desigualdade começa ainda na infância, como revelou uma pesquisa realizada com crianças de 6 a 11 anos. Segundo o levantamento, 81% das meninas arrumam a própria cama, tarefa executada por apenas 12% dos irmãos meninos. Elas também são as que mais limpam a casa (66%, contra 11% dos meninos). Incluir as crianças, independentemente do gênero, nas tarefas da casa é uma forma de ensiná-las sobre responsabilidade e organização, além de mostrar que meninas e meninos valem a mesma coisa e elas não existem para servir a eles. Mesmo meninos pequenos podem ajudar, guardando brinquedos, recolhendo os pratos da mesa ou desligando a televisão.

 

NÃO ESTIMULE A AGRESSIVIDADE NOS MENINOS.

Muita gente acha legal que o filho menino seja “durão”, que aprenda a revidar com violência física as agressões de outras crianças. Esse expediente, contudo, pode fazer com que os garotos passem a dar socos e pontapés toda vez que se sentirem frustrados. E que achem que recorrer à violência para conseguir o que querem vale a pena – mesmo se for por sexo. Um outro costume é “diminuir” os sentimentos dos garotos, com a máxima “homem não chora”. Ele deve e pode chover, pois é humano.

 

 

O termo micromachismo foi criado em 1991, pelo psicoterapeuta espanhol Luis Bonino Mendez. O conceito se espalhou na América Latina, onde o problema cresce cada vez mais, entretanto, nos outros continentes, não é muito diferente. De acordo com o estudo de Mendez, os micromachismos são atitudes discriminatórias direcionadas às mulheres. Estão tão presentes no cotidiano que, muitas vezes, não são consideradas violências e passam despercebidos inclusive pelas próprias mulheres.

Embora muito popularizado, o micromachismo é questionado por muitos especialistas. De acordo com alguns pesquisadores, é preferível chamar o fenômeno de “machismo cotidiano”, pois o termo descrito por Mendez minimiza os impactos dos gestos. A seguir, confira alguns exemplos para aprender a identificar a violência cotidiana.

  • Alguém pergunta se você está nervosa por estar “naqueles dias”, quando, na verdade, você só está sendo assertiva.
  • Você sai para passear e recebe uma “buzina elogiosa” na rua.
  • No ônibus, o homem que senta ao seu lado abre as pernas e ocupa o espaço do banco que lhe convém e também o seu.
  • Quando você divide moradia com um homem, porém ele não participa das atividades domésticas.
  • Quando você tenta explicar que as tarefas de casa são responsabilidades de todos que compartilham o espaço, e recebe comentários do tipo – “as mulheres de hoje não são como as de antigamente”.
  • Ouvir que “caso você não mude seu temperamento, nenhum homem vai te querer”.
  • Quando sugerem que se você não aprender a cozinhar, não vai casar.
  • Quando dizem algo como – “você só tem filhos homens, coitada! Tem alguma mulher, mãe ou tia que te ajuda nas tarefas domésticas?”.
  • Quando um colega de trabalho diz não gostar de trabalhar com mulheres, pois são muito sentimentais.
  • Quando questionam sua maternidade por você estar se divertindo sem a criança.
  • Quando falam que mulher serve apenas para ser recatada e do lar.
  • Quando interrompem a fala de uma mulher que domina determinado assunto.
  • Quando te objetificam em algum elogio ou comentário.
  • Quando te impedem de fazer uma determinada atividade, pois ela é considerada “coisa de homem”.
  • Quando alguém pressupõe a sua sexualidade como heterossexual por você ser mulher.
  • Quando dizem que apenas homens podem gostar de esporte.
  • Quando dizem – “não vai ter filhos? Já está velha”, partindo do pressuposto que você precisa querer ser mãe.
  • Quando falam que você deveria ser mais feminina.
  • Quando controlam seu jeito de falar, pois seu vocabulário não é adequado para uma mulher.

Se você se identificou com estes exemples (e são apenas alguns), fique atenta, converse com outras mulheres sobre o assunto e compartilhe a informação. Comentários opressivos não são apenas “uma brincadeirinha”, eles perpetuam o machismo.

 

(Fontes Dicas de Mulher, Jornalismo UFG e Psicologia on line)

Matéria da Edição 259